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DE QUANDO AS ÁGUAS CRESCERAM POR SOBRE O VENTRE DA TERRA (2018)

Rocha, fome, viscera, mangue, núcleo, membrana, cálice, água. Estado físico que encarna processos que acontecem sem fim em toda a Terra, e em todo Corpo. Forma primária, primitiva, arcaica, anciã, pré histórica. Ciclos de morte e vida que regem as forças da natureza. Experiência cênica como exercício meditativo, imaginário, sensorial. Decolonizar a experiência. Trabalho inspirado no livro "Homens e Caranguejos", de Josué de Castro, e apoiado pelo Centro Coreográfico do Rio de Janeiro (2017/18).


 

Ficha técnica

 

Dança e criação: Dora Selva

Assistência de movimento: Luana Bezerra

Desenho de luz: João Rios

Criação sonora: Yasmin Zyngier

Identidade visual: Pablo Meijueiro

Produção: Nathalia Fajardo

Apoio durante a criação: Centro Coreográfico do Rio de Janeiro, Gleide Cambria, Thiago de Souza, Clara Ramos, Gabriela Cordovez, Julia Rossi e Maira Gabriel.

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"Um círculo no chão riscado a giz, um refletor a pino, um corpo em espiral. Lembro-me daqueles que afirmam o civilizatório ter início também nessa geometria de convívio. Lembro-me de, muito mais adiante, o mesmo sistema ser proposto pelo filósofo para o pensamento. Mas algo é mais nosso nesse início: pensem no presente, pede-nos Dora Selva. O dançar que ocupa o circulo, a partir de então, surge pela condição de seu corpo civilizado, atual, reconhecível. Dança como quem empresta a presença aos olhos de estrangeiros. Mas qual estrangeiro somos ali? Aos poucos, como se fosse a dançarina uma fita de Moebius que se anima ao sensual de sua infinitude, somos conduzidos a primitivização, até o corpo reinventar outra qualidade (talvez pré-humana), gutural, singular. O civilizado é agora apenas cultura por aquilo que lhe é mais íntimo e primeiro. Dora insiste. Dança. Continua até voltar ao início da cena. No entanto, é outra. Enquanto o corpo trás de volta a dança espiralada, surge por ele um gestual que nos conduz aos periféricos, aos subúrbios, aos que integram um civilizatório esquecido e que, por isso mesmo, construiu outro vocabulário para existir e por ele resiste. O corpo deixa de ser um estado da cultura para ser cultural. Até sumir. Até ser somente dela. Até não mais precisar mover-se para dançar. A circularidade narrativa acompanha a simbólica com eficiência. E, ao fim, resistindo ao movimento de retorno ao agora, nos lembramos de seu único pedido: o presente. Fugimos e voltamos a ele. Mas, na realidade, é nele que se situa o primitivo e o civilizado de todos nós. Somos, então, estrangeiros em nosso próprio tempo. Amanhã Dora se apresenta novamente. Meu conselho: assista."

Ruy Filho - curador, produtor e diretor

São Paulo, jul 2018

"Ontem eu fui arrebatada, de forma sutil e silenciosa, pela dança "De quando as águas cresceram por sobre o ventre da terra" da Dora Selva. Uma experiencia fortíssima, em círculo, de uma delicadeza e profundidade que estão bem difíceis de encontrar por aí. Nesses tempos de tanto grito, de tanto meme, de tanto excesso de imagem e estímulo, de tanto trabalho panfletário que a gente esquece no dia seguinte, de tanto instagram, foi lindo dividir esse espaço com um corpo que se movia ali tão perto e poder ouvi-lo, e sentir passar o tempo (que passou tão rápido aliás). Voltei pra casa completamente diferente do que eu entrei ali, apreciando as coisas em volta, o supermercado, o metro (...) Essas coisas que nos escapam e tanto aquecem, que nos lembram que tem alguma coisa maior e dão um gás pra seguir fazendo."

Anna Costa e Silva - artista visual

Rio de Janeiro, set 2018

"A terra sempre me traz um aspecto feminino, por ser a mãe, geradora e acolhedora de seus filhos, hoje conheci uma terra dura e masculina no começo da dança, algo que tem também seu sentido, terra pode ser fundação, terra pode ser deserto, terra pode ser geológica e não só campo fértil de germinação, esse é o sentimento do começo.

Quando começaram então, como em tempestade chegar as águas, um todo revolto da dureza do pingo de chuva forte ressoando e conflitando com a dureza do solo, rusgas, ranhuras, vincos surgiram, para aos poucos começarem a surgir veios, leitos, camadas, hora expandidas de terra encharcada, hora comprimidas de terra diluída nesse tal líquido, o corpo no chão, escorrendo em si, ainda carregava cada força brutal e masculina da terra seca, mas trazia movimentos sinuosos e delicados como gelo sobre superfície lisa, tudo foi se misturando gradual, inteligente (como é a natureza), coerente e ao fim surgiu vida, graciosa, feminina, circular, surgiu ali a dança, dança é feminina, dança é viva, ali ainda tinha força e força em movimento, ativa como é o feminino, menos bloqueio, menos defesa, mais ação, no começo enérgica, no fim fluente, calma e com muito sentido".

Alê Fernandes - produtor cultural

São Paulo, jul 2018

Stress (2010)

O solo ‘stress’ procura investigar uma série de movimentos repetitivos, e a permanência nesses estímulos. O trabalho surgiu em 2010, carregado de misturas de informações e estudos vindos da performance e da dança. Que estratégias o corpo encontra para permanecer na repetição? Existe um aprendizado que acontece a partir dela, e uma existência provocada pela permanência. A permanência só ocorre porque existem mudanças. O trabalho procura um lugar em que o corpo fica constantemente instável, suspenso, com os referenciais embaralhados. Como é possível permanecer e existir dessa dessa maneira?

Dança e criação: Dora Selva

Apoio durante a criação: Rodrigo De

Fotos: Murillo de Paula; Inês Corrêa

Vídeo: Caetano Brenga

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